quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Parque Regional do Alto Nabão III

Fauna

A componente vegetal desta zona, aliada à existência das escarpas que marginam o rio e à abundância de água durante todo o ano, vão permitir a existência de uma fauna também rica e variada, começando por uma enorme riqueza piscícola que permite a ocorrência de algumas lontras (Lutra luyta). Ainda na proximidade da água podem encontrar-se os toirões (Mustela putoius) e os texugos (Meles meles), que nas áreas mais secas dão lugar às raposas (Vulpes vulpes), coelhos (Oryctolagus cuniculos) e a uma grande variedade de micromamíferos. Várias espécies de morcegos encontram abrigos nas inúmeras grutas calcárias que existem na área.

As escarpas calcárias permitem abrigo e algumas rapinas de que destacamos o bufo-real (Budo budo), o falcão peregrino (Falco peregrinus), o falcão tagarote (Falcão subteo). Outra rapina vulgar na região é a águia de asa redonda (Buteo buteo), tendo também sido registada a ocorrência ocasional de água pesqueira (Pandion haliaetus).

Presenças frequentes, merecendo registo pelos seus dons inconfundíveis, são os guarda-rios (Alcedo athis) e o rouxinol (Luscinia megarhyncos), percorrendo o rio e suas margens.

Entre as aves aquáticas há a referir a galinha de água (Gallinula Chloropus), a garça-real (Ardea cinérea), o goraz (Nycticorax nycticorax), entre outras.

Ocorrem em toda esta região do Agroal muitas espécies de anfíbios cuja preença é significativa, pois das 17 espécies identificadas em Portugal 12 já aqui foram detectadas, desde rãs (Raina ibérica), tritões (Triturus boscai, Triturus marmuratus), salamdras (Salamandra salamandra) e sapos (Pelodytes punctatus, Aluctes obstetricans, pelobates cultripes…). Também os répteis se fazem representar através de várias espécies de que se destacam o cágado (Maurenys caspica), o sardão (Lacerta lépida) e o lagarto de água (Lacerta schreiberi).

Por: José Manuel Alho e Sérgio Lopes in Boletim Cultural nº 17 (1992) da Câmara Municipal de Tomar

Parque Regional do Alto Nabão II

A Flora

Encontramos nas margens do Nabão espécies vegetais tão diferentes como os ranúnculos aquáticos (Ranúnculos peltatus) a zelha (Acer monspessulanus); o zimbro (Juniperus oxycedrus), o carvalho cerquinho (Quercus faginea), repartindo áreas geográficas demasiado próximas, snedo no entanto a paisagem denominada pelo “maquis” onde predomina o carrasqueiro (Quercus coccifera), matizado pela beleza de algumas espécies de orquídeas, alecrim, pilriteiros, medronheiros e outras espécies mediterrâneas.

Este povoamento vegetal tem, nos últimos anos, sido vítima de incêndios e do avanço da marcha descaracterizadora do eucaliptal.

Por: José Manuel Alho e Sérgio Lopes in Boletim Cultural nº 17 (1992) da Câmara Municipal de Tomar

Parque Regional do Alto Nabão I

Meio Físico

O Agroal é caracterizado por um importante canhão flúvio-cársico, o qual resulta de um encaixe epigémico do Rio Nabão na massa de calcários duros desta área.


Um “canhão flúvio-cársico” não é mais do que um vale profundo e estreito, com vertentes muitas vezes verticais, que foi escavado por um curso de água importante, em calcários cuja dureza permite a manutenção da verticalidade ou quase verticalidade das vertentes. Este tipo de formas é bastante original porque é pouco vulgar encontrar cursos de água importantes nas regiões calcárias: dada a grande capacidade de infiltração desta rocha, há tendência para que a água deixe de circular à superfície e passe a circular em profundidade. Como explicar então a existência, na área do Agroal, de um canhão com mais de 70 metros de altura? Recuando um pouco no tempo geológico, há que imaginar um Rio Nabão bastante diferente do actual, mais caudaloso e escavando o seu vale não em calcários, mas sim nos grés grosseiros e pouco coesos que cobriam a massa calcária nesta área. Com o progressivo aprofundamento erosivo do vale, foi então atingida a massa calcária, bastante mais compacta que o grés. Embora mais lentamente, o rio começou então a escavar o seu vale em calcários duros, encaixando-se quase verticalmente e definindo progressivamente o canhão actual. Como é possível que o rio tenha sempre conseguido vencer a infiltração subterrânea própria das áreas calcárias própria das áreas calcárias, mantendo-se assim poderoso em termos erosivos? Existem dois factores a ter em conta: por um lado, O Nabão antes de chegar ao Agroal drena uma área não calcaria relativamente extensa – a Bacia Cretácia de Ourém – recolhendo nela um importante caudal, especialmente no Inverno. Por outro lado, no Agroal, a massa calcária está a altitudes relativamente baixas (entre os 100 e 200 metros) pelo que a circulação subterrânea não se encontra muito longe da superfície. O rio, ao aprofundar o seu vale, foi de encontro a esta circulação subterrânea, o que originou importantes exsurgências, as quais contribuíram decisivamente para que conseguisse vencer a infiltração subterrânea. Destas importantes exsurgências, algumas ainda se mantem actualmente activas, como é o caso da “nascente do Agroal; no entanto, a actividade erosiva do Nabão é já fraca pois o rio já tem o seu perfil praticamente regularizado.

A originalidade gográfica desta área manifesta-se ainda pela riqueza geomorfológica das vertentes do canhão, as quais apresentam formas relacionadas com a carsificação (por exemplo as lapas) e também com fenómenos de gelifracção no passado (caso das “buracas” e de algumas cascalheiras).
É ainda de salientar a existência de um micro-clima nestre troço do vale do Rio Nabão, já que as vertentesabruptas e a passagem permanete de uma significativa quantidade de água, provocam uma diferenciação essa que se traduz num ambiente mais húmido, mais sombrio e mais abrigado. Por: José Manuel Alho e Sérgio Lopes in Boletim Cultural nº 17 (1992) da Câmara Municipal de Tomar